ONDE O SEMIÁRIDO DÁ UM SHOW
Canindé de São Francisco/SE - De dois em dois anos realiza-se em Petrolina uma exposição agropecuária diferente. Nada parecido com exposições do gênero que se realizam em todo o Brasil.
Em Aracaju, por exemplo, a exposição do Parque João Cleofas chega aos setenta anos. Hoje, sem o prestígio e a participação popular que tinha antes, a mostra em Aracaju sempre seguiu o mesmo modelo tradicionalmente adotado, qual seja o destaque quase exclusivo para a pecuária de corte
Em Aracaju, por exemplo, a exposição do Parque João Cleofas chega aos setenta anos. Hoje, sem o prestígio e a participação popular que tinha antes, a mostra em Aracaju sempre seguiu o mesmo modelo tradicionalmente adotado, qual seja o destaque quase exclusivo para a pecuária de corte
e leiteira reunindo o que de melhor os criadores sergipanos tinham para mostrar .Durante muitos anos Sergipe destacou-se pelo que faziam aqui alguns selecionadores do gado zebu, depois, dos carneiros Santa Inês. Nossos êxitos na agricultura e pecuária sempre foram modestos, e circunscritos a uma elite que historicamente tinha o controle da terra.
Nos últimos anos, contudo, ocorreram importantes transformações que alteraram a estrutura fundiária, e , paralelamente, fizeram surgir uma nova classe de produtores que através do processo do acelerado ciclo de inclusão social se tornaram protagonistas do desenvolvimento econômico.
Mostrar o que faz essa categoria hoje expressiva de produtores rurais recentemente surgida , é o objetivo dos organizadores da Feira da Agricultura Familiar realizada em Petrolina ( PE) de 29 de outubro ao primeiro dia deste novembro, e que recebe o sugestivo nome de Semiárido Show, definindo o objetivo ainda mais amplo do evento que de dois em dois anos revela os sucessos alcançados na convivência produtiva com o semiárido. Petrolina é , no nordeste brasileiro, o mais destacado polo de produção agrícola, também uma demonstração excepcional do que se pode fazer numa região carente de chuva, mas, beneficiada por estar às margens do São Francisco. E em Petrolina se desfez o mito de que nas baixas latitudes, ou seja, nas proximidades da linha do Equador, era impossível a produção de vinhos de boa qualidade. Vitivinicultores gaúchos, portugueses, espanhóis, italianos, acreditaram na viabilidade tecnológica que a Embrapa lhes apresentava para produzir uvas de cepas europeias e delas fazer vinhos que não teriam as variações daqueles obtidos nos climas temperados, onde o frio mais ou menos intenso e o cair da neve, determinam as características das safras especiais que os enólogos festejam. Os vinhos de Petrolina, o tinto, o branco, o rosé, os espumantes, únicos no mundo produzidos na latitude de quatro graus sul, têm uma característica única: sem safras especiais ou comuns, são vinhos resultantes de uvas sempre expostas ao sol, que se deram bem no solo da região e, com a permanente irrigação, compensam a baixa umidade do ar extremamente seco. O Brasil, em Petrolina, revelou aos enólogos surpreendidos o vinho do sol e do calor , algo novo, e que agora corre o mundo, sem evidentemente, aquela sofisticação pedante dos grands-crus, acessíveis apenas a endinheirados que transformam o prazer da bebida num ato de tola e egoísta ostentação.
Petrolina é bem mais do que um polo vinícola, se destaca também na fruticultura e mantem viva a sua vocação para diversificar e ampliar a capacidade produtiva, mas é, além disso, um polo de difusão de tecnologias aplicáveis ao nordeste seco, e o Show do Semiárido foi exatamente a vitrine onde se exibiram os resultados dessas tecnologias aplicáveis a produção de alimentos , ao uso da terra, da água, à convivência com as secas. Os benefícios se fazem sentir diretamente na agricultura familiar, na geração de cadeias produtivas nos quais estão agora envolvidos os que se libertaram da miséria e transformam o semiárido num local propicio para se viver. O Show do Semiárido tinha a participação dos pequenos agricultores e criadores, de artesãos, de pessoas que montam micro empresas industriais. Havia técnicos de todo o nordeste, de crianças e adolescentes, habitantes do semiárido, que chegavam dos municípios da região e vinham tomar contato com o novo mundo de oportunidades que agora existem para eles. Lá estavam muitos sergipanos, técnicos, curiosos, gestores públicos, buscando aprender, absorver experiências. No Show do Semiárido estiveram entre outros, o superintendente da Codevasf, agrônomo Paulo Viana e técnicos daquela empresa, o prefeito Heleno Silva, de Canindé do São Francisco e assessores, observando o plantio de uvas, e a produção de peixes em tanques rede no Lago do Sobradinho; o diretor- presidente Mardoqueu Boldano e técnicos da Cohidro, interessados em experiencias voltadas para a obtenção e conservação da água. Heleno Silva retornou de Petrolina alimentando a ideia de trabalhar para conseguir que se instale em Canindé um polo avançado do Centro de Estudos e Pesquisas do Semiárido, para estimular, no sertão sergipano, a utilização de tecnologias e a adoção de experiências desenvolvidas por aquela instituição sediada em Petrolina.
Luiz Eduardo Costa
Jornalista
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