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sábado, 12 de outubro de 2013

Dia Mundial das Crianças e uma realidade muito presente

Canindé de São Francisco/SE - Mesmo com dados do início dessa década de 2000 esse artigo encontra-se mais que atualizado para uma reflexão desse Dia. 
Adeval Marques

O Brasil parece marcado em sua alma pelo abandono social. Muitos autores tentaram explicar este fenômeno. Grande parte das tentativas de explicação centraram seus argumentos na nossa cultura política. Em nosso sangue correria um hábito “patrimonialista”. O patrimonialismo teria origem nas relações de subordinação que existiam no interior da Casa Grande, na época da escravidão: as amas de leite e seus filhos que perambulavam pela Casa Grande eram considerados “quase iguais”. Eram tutelados, protegidos, mas não ouvidos. Em suma, uma relação falsa, cínica, em que as brutais desigualdades eram tratadas como meras diferenças. 

Francisco Weffort, quando era atual Ministro da Cultura, escreveu um texto em que defendia a noção de “dualidade” da sociedade brasileira: uns votam, como exercício formal para confirmar o que historicamente sabemos, que quem vota não governa e apenas legitima a outra parte, detentora do real poder de decidir.

Alguns segmentos sociais de nosso país sentem mais de perto as conseqüências de nossa cultura política. Um desses segmentos é o composto por crianças e adolescentes. No ano de 2002, primeiro trimestre, foi registrado um crescimento de 145% no número de denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes se comparado ao mesmo período de 2001. O levantamento foi realizado pela Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), em parceria com o Ministério da Justiça. O maior crescimento (180%) foi verificado no número de casos de abuso sexual: 60 em 2001 contra 168 casos naquele ano.

Mas, qual a relação desta informação com o patrimonialismo? Ocorre que em 80% dos casos de abuso sexual, a violência é cometida por alguém que a criança ou adolescente ama e confia. Em 62% dos casos o autor do abuso é alguém da própria família, em especial, pais e padrastos. Em 79% dos casos, o ato ocorre dentro da casa da vítima. O horror que emerge nas entrelinhas desses dados é que tais adultos abusam de indivíduos psicologicamente indefesos. Na faixa etária entre 5 e 8 anos de idade, a criança possui uma dependência moral e psicológica quase total, enfrentando um duro percurso de inserção nas regras da sociedade. Quem ensina o percurso à criança é o pai ou adulto mais próximo afetivamente. Piaget denominou tal fase de egocêntrica e percebeu em suas pesquisas que os pais confundem-se no imaginário das crianças com a figura de Deus.

Contudo, o drama de nossas crianças e adolescentes não se limita ao espaço doméstico. A cultura patrimonialista viceja nas políticas públicas. Segundo a ONU, apenas 1/3 das metas estabelecidas durante a Convenção sobre os Direitos da Criança, ocorrida em 1990, foram alcançadas pelo Brasil. A divulgação desta análise foi feita pelo então Ministro Paulo Renato, em 30 de abril. O documento da ONU revela que, das 27 metas estabelecidas, o Brasil atingiu apenas 9 e cumpriu parcialmente mais 11. 

Se atingimos as metas de erradicação da poliomielite, redução de casos de sarampo e cobertura acima de 90% da população-alvo em todas vacinas infantis, não conseguimos cumprir as metas de erradicação do trabalho infantil. O grande ponto negativo foi o atendimento aos adolescentes infratores, considerados “avanços muito tímidos” no relatório. Não atingimos justamente as metas mais diretamente vinculadas à mudança de hábito cultural. De nada adianta salvarmos as vidas de crianças e adolescentes se não sabemos tratá-las como tal, se não sabemos educá-las, se nós, adultos, continuamos olhando para uma criança como se fossem “pequenos adultos” ou “coisas inferiores”.

1 comentários:

  1. 12 DE OUTUBRO – DIA DA CRIANÇA

    “TODA CRIANÇA MERECE SER FELIZ”

    Tão bom presentear as crianças com brinquedos e guloseimas [...] observar seus rostinhos risonhos e felizes, afinal, “toda criança merece ser feliz”, pois a partir dessa máxima, teremos no futuro, adultos que guardarão da infância belas recordações, sem sequelas emocionais. É bom mesmo fazer as crianças felizes no dia 12 de outubro!
    No entanto, pensar em fazer uma criança feliz, exige uma maior atenção quanto as suas necessidades, que vão desde ao contexto familiar, social, econômico e educacional. As crianças hoje podem ser consideradas, como citava o pensador Jean-Jacques Rousseau, “adulto em miniatura” convivendo com as necessidades mais elementares, saúde, alimentação, vestuário, desatenção, desafeto, além de viverem em situação e ou risco de vulnerabilidade social, tendo por força motriz as drogas, prostituição infantil, abuso sexual, dentre outras mazelas sociais.
    Todos sabem que o dia 12 de outubro, dedicado a homenagear as crianças, é uma data, a exemplo de muitas, criada para que o comércio venda seus produtos. O que não torna inválida a grandiosidade dessa data, bem como, o fato de todos propiciarem com que as crianças se sintam felizes nesse seu dia. Apenas, trata-se de uma reflexão que quer chamar a atenção da sociedade para o fato de que essas crianças precisam de muito mais, pois o brinquedo quebra e se estraga com o passar do tempo, mas, a memória que essas crianças guardarão de sua infância, ficará para sempre.
    Que essa data sinalize maior participação da sociedade civil e das politicas públicas no sentindo de fazer com que essas crianças, realmente, sejam felizes todos os dias de suas vidas, tendo afeto e atenção, alimentação, segurança e educação e acima de tudo, que não sejam vulneráveis ao submundo das drogas, prostituição, abuso sexual e trabalho infantil.
    Eleonora de Albuquerque.

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