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domingo, 1 de setembro de 2013

A RODA QUADRADA DOS BUROCRATAS

Canindé de São Francisco/SEDe tanto mexerem e viverem rodeados de papeis os burocratas podem ser contaminados pelos invisíveis e insidiosos ácaros, bichinhos perturbadores que causam renitentes formas de alergias. 

Essas alergias podem não ser um simples caso médico, porque, até desafiando a modernidade do nosso tempo informatizado, digitalizado, de onde sumiram os papeis, deslizando o mouse e de olho na telinha, os burocratas continuam afetados pelos ácaros que antes infestavam os mofados gabinetes. É incrível, mas o mofo persiste. Há burocratas high-tec que, mesmo dispondo de todos os recursos eletrônicos, não conseguem aposentar a liturgia rançosa do amanuense que cada um carrega na sua cabeça.

Embora manipulando uma infinidade de megabaites e de aplicativos, grande parte dos burocratas, especialmente aqueles que detêm maior fatia de poder, agem como se fossem (evidentemente sem a ingênua pureza) aquele personagem de Saint- Exupery, habitante de um minúsculo planeta, mundo exclusivo, onde tem à disposição dezenas ou centenas de nascer ou de por de sois, bastando, para isso, esticar o pescoço, sem atentar, todavia, para o baoabá, árvore imensa que vai crescendo e despedaçando o seu mundo. Nos gabinetes desses ¨pequenos príncipes ¨o mundo exterior , a realidade circundante, nem é levada em conta, até lhes causa alergia, pior do que aquela provocada pelos ácaros que infestavam a antiga papelada.

Agora, juntam-se dois setores, a Controladoria e um procurador, e ficam a atanazar gestores de empresas públicas para que demitam funcionários que, tendo atingido o limite de idade, aposentaram-se pelo INSS, mas, foram convocados a trabalhar. Não pesam duplamente nos cofres estaduais, são todos funcionários experientes, úteis para as empresas, e que cumprem religiosamente seus horários de trabalho, ao contrário de tantos que ganham sem fazer nada. Há um proverbio, talvez de origem egípcia, que diz: ¨Quando morre um idoso perde-se uma biblioteca ¨. Ou seja, enquanto o idoso estiver vivo podendo ser útil, burrice seria não utilizá-lo devidamente. A demissão dos idosos proposta ou imposta aos gestores, é uma equivocada decisão, que, além de mesquinha e miúda, está totalmente em descompasso com o nosso tempo.

Ilegalidade não há, tanto assim que o Superior Tribunal de Justiça acaba de decidir sobre a não aplicabilidade da aposentadoria compulsória aos cargos comissionados, que podem continuar sendo preenchidos por servidores além dos 70 anos.

Burocratas usuários da roda quadrada vivem a procurar pretextos para emperrar e perseguir, e nem sequer percebem que o idoso, mantendo-se produtivo, contribui para reduzir gastos públicos com a saúde, a previdência. No mundo moderno, somente moderno porque eliminou a burocracia tão ineficiente quanto arrogante e corrosiva, existem políticas públicas visando reinserir no trabalho os idosos aposentados, o mesmo acontecendo na área corporativa.

Aqui em Sergipe ha o bom exemplo da Polícia Militar que vem enfrentando o problema da redução do efetivo, retornando policiais ao serviço ativo, pagando-lhes gratificações que reforçam os proventos da reforma.

Tomara que em relação aos militares não se volte o pessoal da roda quadrada. Muitos desses burocratas poderiam fazer uma demonstração positiva, se eles próprios adotassem regras pessoais de absoluto comedimento , começando pela redução dos gastos nos seus gabinetes, até pela eliminação de certas vaidades, tão miúdas e desabonadoras que chegam a parecer inverídicas, com aquela, tão recorrente, de mandar o motorista ligar o motor e o ar condicionado do carro de representação com antecedência, para que o encontrem refrescantemente refrigerado no instante em que acomodarem o traseiro próprio no outro macio traseiro do veiculo.

Faz coisa de dois anos, o governador Marcelo Déda inaugurava o Balneário de Salgado. Ele fora informado da gerontofobia que os rodas quadradas já manifestavam. Chamou então para ficar ao seu lado, o mais idoso, e seguramente um dos mais eficientes funcionários da EMSETUR, o administrador Otávio Barreto. Fez-lhe uma bonita homenagem, e declarou que tanto Otávio como todos os idosos ainda trabalhando poderiam ficar tranquilos, porque ele, Marcelo Déda, não iria passar à história da vida publica sergipana como perseguidor de pessoas que se mantêm socialmente úteis, recusando o ócio paralisante da aposentadoria.

Mas, pelo caminho existe a pedra, a burocracia emperrada, incompetente e desumanizada da roda quadrada.

Luiz Eduardo Costa
Jornalista

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