O CAOS PODE ESTAR CHEGANDO
Aquele caos anunciado para o transporte público aracajuano poderá de fato estar acontecendo. E o caos se anuncia fortemente com a redução da frota e o quase total sucateamento da que resta circulando. Nosso transporte público nunca licitado, por conseguinte ilegal, e assim tolerado, não é apenas ruim, é horrível. O suplicio de amontoar-se nas deterioradas carroças sacolejantes, desconfortáveis, fedorentas, em percursos alongados pela lentidão do transito, somente poderia ser menos pior do que aquilo que agora está acontecendo: a falta das carroças, que, pelo sim pelo não, eram o único meio de transporte público disponível.
Um banco credor pediu, e a Justiça decretou o arresto de mais de 60 ônibus de uma das empresas. Não parece ser uma medida sensata a retirada sumária dos meios de que dispõe o devedor para saldar o débito. Pelo contrário, ainda mais o sufoca, retirando-lhe parte considerável do faturamento. Levados a leilão os veículos não alcançariam lances suficientes para cobrir a dívida. Mas quem vai esperar bom senso alojado em cabeça de banqueiro?
A partir desse episodio, o colapso se foi agravando. A crise é mesmo sistémica, e não será fácil contorná-la a curto prazo.
As longas esperas enervam os estressados passageiros, e disso aproveitam-se alguns, para o inicio da baderna, com os atos de vandalismo que só pioram a situação.
O VELHO NAVIO DE LA NÃO SAI
O velho cargueiro de cabotagem transpôs a barra de Aracaju. Porões vazios, sem nenhuma carga, calado próximo aos três metros, ele venceu o canal e veio ficar fundeado em frente ao estaleiro H. Dantas, também empresa armadora, proprietária do barco que deveria ser reformado, mas, nunca subiu a rampa do estaleiro. Seis anos decorridos, ele lá permanece. Reclamam as pessoas que o navio, assim paradão, do outro lado, na Barra dos Coqueiros, enfeia a paisagem. O problema é que agora, o navio mesmo rebocado, não conseguirá outra vez cruzar a barra, tomando o rumo do oceano. A barra, nesse espaço de 6 anos, assoreou muito, e tornou-se mais crítica. Há locais onde a profundidade não chega aos 2 metros. No porto de mar da Barra dos Coqueiros continuarão atracando os navios grandes, no porto estuarino de Aracaju e Barra dos Coqueiros o que se deve assegurar é a passagem de barcos menores, com menos de 3 mil toneladas, para o suporte logístico das plataformas da Petrobras e de outras empresas que operam no litoral sergipano. Acabam de chegar novos equipamentos para o campo de Piranema, em frente a Aracaju, em águas profundas, há novas e promissoras jazidas. Para a nova fase de produção petrolífera que está começando, o porto estuarino será imprescindível.
O SEXAGENÁRIO VOADOR
Marcos Aragão começou a saltar de paraquedas quando tinha 17 anos, e precisou de autorização paterna para iniciar-se no esporte que, no começo da década dos 70 nem existia em Sergipe. e sua prática era pouco difundida no país. Em João Pessoa, todavia, funcionava um clube de salto livre que era o único do nordeste. O Aeroclube de Aracaju entrou em contato com os paraquedistas paraibanos e conseguiu que Aragão e um outro jovem que também queria saltar, Bira, para lá viajassem e fizessem o curso. Voltaram os dois com o curso concluído, e o Aeroculube convidou os saltadores paraibanos para virem fazer uma demonstração em Aracaju. Durante o show aéreo houve alguns incidentes, e uma jovem loira paraquedista errou o alvo, e enfiou-se pelo telhado de uma casa. Aragão, começando o curso de Educação Física e administrando uma academia de fisioculturismo, esqueceu-se por algum tempo do paraquedismo, e a ele só retornou depois de alguns anos. Hoje, aos 60 anos, contabiliza quase 1 500 saltos, o que está bem longe de um recorde, mas é uma cifra expressiva.
Ao tornar-se sexagenário, resolveu tentar bater um recorde. Organizou uma equipe, convidou para vir acompanhar de perto a tentativa o homem pássaro, Sabiá, recordista de desafios radicais, com m ais de 10 mil saltos, normais, e também anormais.
Das 5.30 da manhã, ás 15, 30 contando com uma eficiente equipe de terra e tendo como lançador o comandante Léo, saltou sem parar , repetidamente, 60 vezes. É o recorde nordestino. Depois da façanha, no hangar do Aeroclube , apagando as velinhas de um bolo azul, imitando uma pílula de Viagra, Aragão ouviu de um amigo que desdenhava do seu feito: ¨Recorde espantoso seria um sexagenário, mesmo com a azulzinha, fazer sexo 6 vezes, em um só dia¨.
ANÍSIO DÁRIO UM CRIME A ESCLARECER
O assassinato pela polícia do operário Anísio Dário, em novembro de 47 é um crime encoberto pela penumbra da dissimulação. As circunstancias imediatas do assassinato são bem conhecidas, e sobre ela tantos já escreveram, mas, o que se seguiu ao trucidamento revela o clima de uma época, em que o tropel dos cavalos desnudava o simularco de uma democracia bem mais frágil do que a ¨plantinha tenra ,¨ da metáfora de Otávio Mangabeira.
Operários, intelectuais, estudantes, reuniam-se no Cinema Rio Branco, centro da cidade, Rua João Pessoa, para um protesto contra a cassação do registro do Partido Comunista Brasileiro e dos mandatos dos seus representantes nos parlamentos e prefeituras. O ato fora proibido pelo Chefe de Polícia, o Dr. Monteirinho. Esvaziado o cinema, os manifestantes sairam em passeata. Chegou a cavalaria e investiu contra o povo. Anisio Dário foi morto a tiros e sobre ele passaram alguns cavalarianos, até que o corpo ficasse destroçado. Antonio Garcia Filho, médico, que tentou socorrer Anísio, e também um dos manifestantes, depois descreveria a cena. O enterro foi acompanhado de perto pela polícia, e o corpo colocado em um caixão vedado. A família de Anisio Dário, sua esposa e filhos menores tiveram de deixar Aracaju e foram viver no Rio de Janeiro. Anos depois, quando a viúva de Anísio faleceu, o filho, Zacarias tentou abrir o inventário, mas lhe faltava a certidão de óbito do pai. Constatou, então, que o documento nunca fora emitido, e que também não se fizera a indispensável necropsia para atestar a causa da morte.
Agora, Zacarias está em Aracaju, tenta incluir a atrocidade cometida pela polícia sergipana entre os crimes contra os direitos humanos a serem esclarecidos pela Comissão da Verdade.
Zacarias, acompanhado do primo Diógenes , do professor Antonio Bitencourt, reuniu-se na Ouvidoria- Geral do Estado com os historiadores Gilfrancisco e Murilo Mellins, depois, foram à Secretaria dos Direitos Humanos. O Secretário Luiz Eduardo Oliva os recebeu, e a assessora Jéssica Oliveira de Carvalho preencheu a ficha de atendimento assim concluída: ¨Vem o requerente pedir à Comissão da Verdade a abertura de investigações sobre o assassinato do líder sindical e operário da construção civil Anísio Dário de Andrade a fim de que se possa garantir o direito ao reconhecimento da memória do mesmo, bem como garantir à família o direito de identificar os verdadeiros responsáveis, e ter ainda o direito de recuperar / reaver todos os documentos do Sr. Anísio Dário, os quais foram na época confiscados pelas autoridades policiais ¨.
Finalmente se poderá saber por que a cavalaria e seus cavaleiros, pagos pelo povo investiram contra o povo, para assassinar um homem do povo. Foi em 1947, mas o tempo não apaga o crime.
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