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terça-feira, 23 de julho de 2013

A SENSUALIDADE DESCOBERTA EM TOBIAS

Canindé de São Francisco/SE - Difícil, quase impossível, que a mistura do sangue afro com o europeu não resulte em mulatas sinuosamente sensuais. 
Luiz Eduardo Costa
Jornalista



Naquelas Vênus calipígias ardentes, escurecidas ao sol do equador. Já os mulatos, evidentemente sem as sinuosidades, também herdariam as ardências dos sangues misturados. O sangue negro, tropical, carregaria um forte potencial de sensualidade. Tobias Barreto, filósofo, jurista, polemista, e sofrível poeta, era mulato, assim, teria a genética a dar-lhe as irrequietas características de um fauno. Sobre aquele intelectual que tantos sergipanos orgulhosamente o colocam na privilegiada galeria dos gênios, são reduzidas as informações sobre aventuras galantes por ele vividas. Além daqueles torneios de versos improvisados no teatro Santa Isabel, pelas graças da atriz Eugenia Câmara, tendo como rival nada menos do que um outro gênio, o baiano Castro Alves, Tobias teria sido um estudante aferrado aos livros, permitindo-se, vez por outra, dedilhar um violão numa seresta ao luar pelas ruas recifenses, ou na sua acanhada Campos do Rio Real.

A vasta obra de Tobias, as suas incursões pela filosofia, pelo Direito, pela política, revelam um espírito sempre inquieto, com preocupações sociais difusas, sem relacioná-las, coerentemente, às generosas ideias socialistas que agitaram o ¨século das luzes ¨ , aquele em que ele viveu . Disso, o seu célebre Discurso em Mangas de Camisa pode ser a teia condutora na busca de uma definição precisa para o pensamento social do mulato que se empolgou com a densidade da cultura filosófica germânica, que seria, para a sofisticação obtusa dos conservadores círculos intelectuais europeus, um terreno reservado aos privilegiados cérebros do povo branco e nórdico, nele não sendo facultada a intromissão daquela gente escura e inferior, habitante dos trópicos.

Para quem vagueia apenas superficialmente pela complexidade do pensamento tobiático, como é aqui, exatamente o caso , detectar traços de sensualidade na a sua obra seria algo inusitado, e mesmo uma descoberta instigante. Vladimir Souza Carvalho, escritor, pesquisador, amigo e parceiro intelectual do maior conhecedor daquele denso legado cultural de Tobias, que foi sem dúvidas Luiz Antônio Barreto, encontrou as pistas que o levaram a flagrar a sensualidade no filósofo. Certamente, não estariam essas pistas no jornal em língua alemã que Tobias teve a ousadia absolutamente inócua de editar em Escada, pobre e atrasado município pernambucano, palco da tragédia social dos engenhos e da escravatura, e onde quase toda a população analfabeta tanto necessitava de cartilhas ou taboadas. A rascante língua em que as consoantes sufocam as vogais, mais se adaptaria aos hinos guerreiros. Mas em Dias e Noites, livro que reúne poesias que Tobias produziu, e que aliás não o consagram como poeta, Vladimir deve ter começado a distinguir a sensualidade que ele continuou a buscar pela vida que não foi longa do grande sergipano, nos episódios que a biografia registra. Ao lado do pensamento desafiador, Tobias teria também a inquietação do sexo não pacificado na disciplina exigida pelo casamento monogâmico. Vladimir poderá ter identificado a sensualidade de Tobias, extravasando da sua obra intelectual e ido, quem sabe, buscar os prazeres encontráveis nos cabarés pelos casarões do Recife Velho, e que entraram pelo tempo, caracterizando, até hoje, ruas como a do Rangel, da Guia, do Cais de Santa Rita, do Imperador , ou até confrontando-se com a castidade vigiada das senhorinhas prendadas e recatadas das Casas Grandes de Escada, frequentadas, vez por outra, pelo Promotor de Justiça cuja fulgurante inteligência, para os preconceituosos baronetes do açúcar , atenuava o ¨defeito ¨ da origem e da cor.

O tema, sem duvidas atraente, será tratado amanhã, segunda-feira, dia 22 , na sessão semanal e vespertina da Academia Sergipana de Letras pelo acadêmico Vladimir Souza Carvalho, e poderá alongar-se, resultando em mais um livro entre tantos que Vladimir já escreveu, enriquecendo a produção literária sergipana.

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